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Plicatura gástrica endoscópica para tratamento da obesidade

POR  EM 20 DE MARÇO DE 2017 ARTIGOS

Revista Obesity – fev 2017

Nos últimos meses, temos visto na imprensa leiga e até na televisão brasileira informações dando conta de um novo método para tratar a obesidade, endoscópico, menos invasivo, mais barato, eficaz e excelente para substituir a cirurgia bariátrica.

Algumas pessoas têm me questionado sobre o assunto. Eu tenho respondido de forma direta com minha opinião enfaticamente desfavorável a esse tipo de procedimento. A razão desse meu posicionamento se baseia em que esse procedimento tenta reproduzir, por via endoscópica, um procedimento cirúrgico, a Gastroplastia Vertical de Mason, uma técnica cirúrgica já abandonada por ser ineficaz e com muitos efeitos colaterais a longo prazo.

Cirurgião norte-americano Phillip Schauer

Na edição de fevereiro deste ano, a revista Obesity publicou um artigo de autoria dos Drs. David Cummings e Philip Schauer, dos Estados Unidos, duas das maiores autoridades mundiais no campo da pesquisa e tratamento clínico e cirúrgico da obesidade, comentando os resultados de estudos sobre procedimentos endoscópicos, tais como o recente trial ESSENTIAL, conduzido por Sullivan et al (*), que testou o Primary Obesity Surgery Endolumenal (POSE). Schauer e Cummings buscam uma melhor resposta aos cada vez mais recorrentes questionamentos sobre tratamentos endoscópicos da obesidade.

O ESSENTIAL é um estudo prospectivo, multicêntrico, randomizado e duplo cego, com conclusões de alto grau de evidência científica.

Vejam algumas das conclusões:

Endocrinologista norte-americano David Cummings

1) 332 pacientes com obesidade graus I e II foram divididos em dois grupos. Metade no grupo com o procedimento endoscópico de plicatura e mudanças no estilo de vida. A outra meta no grupo com mudanças no estilo de vida e procedimento endoscópico sham (cirurgia placebo) **. Os grupos foram acompanhados e os resultados, comparados.

2) A intervenção endoscópica é irreversível.

3) A perda de peso média após um ano foi de 4,9% do peso total para o grupo da plicatura endoscópica e 1,4% para o grupo controle (sham). Nenhum grupo alcançou a perda de peso almejada (5%).

4) Houve 5% de efeitos adversos sérios no grupo da plicatura endoscópica, principalmente dor, e 0,9% no grupo controle.

5) Houve uma melhora muito discreta no diabetes e diminuição do risco cardiovascular no grupo da plicatura endoscópica.

6) Um paciente da plicatura endoscópica desenvolveu um abscesso hepático. Isso deve ser uma preocupação futura entre esses pacientes. E também ser considerado no desenvolvimento destas técnicas endoscópicas.

7) Quando se analisa o custo-benefício dessa abordagem endoscópica com outras estratégias surgem importantes questões. A perda de peso com a plicatura endoscópica neste estudo foi semelhante ao que se obtém com a prescrição de medicamentos atualmente disponíveis para perda de peso. O mesmo se pode falar sobre os tratamentos com os novos modelos de balão intragástrico.

8) Embora seja um procedimento permanente com um gasto teoricamente único (cerca de 11.000 dólares), os benefícios clínicos duram poucos anos. Um investimento similar daria para viabilizar tratamento medicamentoso durante 25 anos.

9) Ainda não existem muitos resultados de longo prazo de nenhuma estratégia endoscópica para perda de peso.

10) Há atualmente um vazio entre a eficiência na redução de peso dos tratamentos com medicamentos/estilo de vida e cirurgias bariátricas e metabólicas. Os desenvolvedores de tratamentos endoscópicos gostariam de preencher este vazio. Os seus tratamentos são menos invasivos do que cirurgia, mas têm o seu grau de perigo e invasão. Portanto, eles deveriam ser bem mais efetivos do que remédios/estilo de vida.

11) As técnicas endoscópicas, há que se falar, estão numa fase de desenvolvimento bem inicial e maiores refinamentos poderão algum dia oferecer melhores resultados. Pesquisas e desenvolvimentos adicionais são necessárias para se chegar a esses resultados desejados.

 

Acesse o artigo dos Drs. Cummings e Shauer publicados na revista Obesity – fevereiro 2017:

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/28124503

 

* Sullivan S., Swain JM., Woodman G. et al. Randomized sham-controlled trial evaluating effcacy and safety of endoscopic gastric plication for primary obesity: the ESSENTIAL study. Obesity 2017; 25:294-301.

 

** Cirurgia sham é uma cirurgia placebo, fictícia, a qual omite o passo terapêutico necessário. Em ensaios clínicos de intervenção cirúrgica, a sham é um importante controle científico, porque permite isolar efeitos do tratamento considerados acessórios: anestesia, trauma da incisão, cuidados pré e pós-operatórios, a percepção do paciente de ter passado por uma operação, entre outros. Assim, a cirurgia sham possui um efeito neutralizador de resultados, análogo ao das drogas-placebo.

 

Orlando Pereira Faria é editor científico e colunista do Portal Saúde Metabólica. Cirurgião bariátrico-chefe da Gastrocirurgia de Brasília e membro-titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica, entre outras entidades.

Fonte: Saúde Metabólica

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